O pescador pesca,
o artesão molda belezas.
Ambos misturam-se a maravilhas.
O pescador molda a rede,
e lança-a, numa dança, ao mar.
O artesão pesca, na argila, os peixes,
a esperança da vida do pescador.
O pescador constrói a rede, o barco,
o artesão inventa o ver-azul do mar.
Nós, os racionais, nada temos a ver com eles.
Sabemos pouco sobre mares, redes e argila.
Geramos mais são muitas guerras.
Se fôssemos racionais, em verdade,
em verdade, vos diria,
levaríamos em conta todos os que não somos nós.
Mas nossa moral e nossa ética desarrazoadas,
não nos permite nenhum lucidez.
Nos azaramos sem perceber?
Que tipo de racionalidade existe em nós?
Por favor, alguém pode me ajudar a raciocinar?
Não, por Deus, dispenso a ajuda.
Sim, porque não me distancio de vocês.
Furamos o barco.
Não o do pescador inicial.
Massacramos as belas artes do artesão.
Mas ele sabe reinventar o belo (mau pra nós?).
Somos muito inteligentes, ora, vejam,
fazemos muitos não poderem ser,
desconsideramos, de muitos, a própria existência.
Fazer o quê agora? Explodir a Terra?
Culpados, ajoelharmos diante de altares,
pedindo perdão, sacrifícios e penitências a Deus?
Jejuar, não transar, nem um aperto de mãos?
Ensimesmar-se feito bicho velho sem visão?
Como somos velhos e ao mesmo tempo atuais!
Como somos pérfidos sem o saber, aliás,
será verdade essa nossa ignorância?
Bem-vinda, bendita dúvida! Bem-vinda!
Como somos mulas empacadas, lagartas,
recusando-se a virar aladas borboletas coloridas,
protegendo nossos casulos particulares, individuais,
com a certeza infeliz de que nunca rebentarão,
lançando gosmas nojentas e mortas.
Somos presas e caçadores,
cobras corais e colibris,
vagalumes e morcegões,
caranguejeiras negras, peludas,
e abelhas fazendo mel,
geléia real.
Mas os pescadores pescam, moldam e constroem.
E os artesãos moldam, pescam e inventam.
Confundem-se com o extraordinário do mundo.
Temos faca e queijo nas mãos.
Pena não sabermos usá-los.
Pena inventarmos tantos rótulos,
etiquetas e formalidades.
Bem-vinda, bendita dúvida! Bem-vinda!
Valéria Diniz
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
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