quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Pra Começo de Conversa

Já penso que a vida não abriga mesmo certezas. Mas sei que converso, provocando ecos disformes, quando me encontro em plena solidão física.
Não espero escutar respostas nem ter visões. Preciso apenas de um canto, uma idéia, um estímulo que me faça sentir a inexistência do "por acaso"e do "sem razão".
É hora de reverter o processo de destruição - esses planos diabólicos que faço e experimento feito cobaia - , de indagar sobre tudo (tudo inadjetivado), de descobrir intimamente o que torna a realidade - deusa que me faz beata - menos insana. (A existência e a possibilidade da loucura incomodam-me neste momento.)
Que culpa tenho (que ingênua sou!) se me acostumei ao meu ser, se aprendi a moldar-me nele, se sinto a voz ausente e a mente atordoada no meio da multidão?
Que culpa tenho (tolices, tolices) - e mostre-me um mal - em ser pensativa, parecer longínqua, nunca estar onde deveria estar, nem fazer o que deveria fazer? (Agora, por exemplo, esqueci-me por que estou aqui sentada a rever borrões...Será que existe outro lugar chamado Terra e nasci justo no falso?
O fato é que não pude ser este ninguém que não pôde ouvir-se e falar-se. Verdade é que possuo um nome apenas e incontáveis e perdidas por aí identidades que podem, a qualquer hora, em qualquer situação, desafiar os próprios pontos finais e mentir, sabendo ser tudo mentira, só para ter menos tempo para viver o que são realmente?
Posso invocar-me e a qualquer frase, da mais primitiva à mais rebuscada, com ares fantasiosos de precisões que nunca alcancei cutaneamente nem cardiacamente quanto mais mentalmente. Como então transformei-as em coisas visíveis, palpáveis e legíveis?
Estou cansada de substituir-me por palavras. Irrita-me esta mania dicionarística, esses dedos folheadores, esses tubinhos de tinta que escrevem (esses pensamentos, esses pensamentos meus...)
Queria, certamente, saber passar os dias longe disso tudo; conhecer algum ato destrutivo que me garantisse algum tipo de fim.
Acovardei-me intensamente. Cada vez mais me penetro, cada vez mais sinto loucura por livros, relógios, espelhos e muros e pavor da vida que há atrás deles, dos símbolos, das ordens prévia e mentalmente ordenadas.
Sei falar assim: calada, sozinha, papéis a rodear, afastada de tudo que é vivo, biologicamente escrevendo.
O que não posso fazer, por ausência de lógica, é apresentar causas, conclusões. Mas, devo acrescentar minha vontade de retroceder e aprender, como uma criança, o beabá inicial de uma Língua a princípio dominada sonoramente. E ficar a ouvi-la por mim cantada.

Valéria Diniz

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