segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Devaneio

Mas, sabe,
quando a canção implora pela minha voz,
eu a canto outra.
Aquela que se encontra ao te ver ressonar
e aquela que te encontra sem você estar.
Pelo lado de fora dos vitrais,
são outras as cores,
mais obscuras as fantasias,
originadas todas através da luz da tarde
que deita sobre ti.
E eu me esforço pra não jogar fora a face do cansaço...
...como ouso te escrever? como ouso te amar...
Mas, sabe, quando?...
a sensação de poder atravessar os mares
só pra poder te ver...quando?...
a impressão de planar sem mexer um dedo e,
no pouso, ver somente a tua mão a me acenar.
Tarde. A tarde já tarda o adeus.
Outra, a visão já não me espera em meu olhar.

Valéria Diniz

sábado, 13 de setembro de 2008

Medo

Das intensidades tenho medo.
Dos sabores, dos odores, dos perfumes,
dos tremores do horizonte.
Respeito tudo.

Das intensidades tenho medo.
Dos desejos de te ver,
das vastas planícies do teu ser,
dos sonoros suspiros teus.
Respeito a esmo.

Das intensidades tenho medo.
Das quantidades de vezes em que te quis,
das qualidades das vezes em que te quis,
das todas idades de lembrar.
Tenho medo.

Váléria Diniz

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Seiva Bruta

Incomoda saber o passado não passado.
Verifico um aumento, um acúmulo de tristeza.
Me incomodo.
Precisei todo o dia sobrevoar passageiramente aquela esquina.
Levar comigo, no meio daquele livro, uma folha viva,
oliva-verde-seiva-bruta.
Qual era a cor do teu vulto?
Qual perfume em tua melodia?
Desci a rua, lentos passos,
melancólicos passos,
incômodos sapatos.
A noite crescia negra toda breu.
Sem lua. Céu fechado. Olhos cerrados?
Passavam ônibus,
mas nenhum podia me levar.
Passageira sem rumo,
não sei a distância, o caminho,
a velocidade, o destino,
o quanto falta pra chegar.
O quanto falta...
Falta você.
Falta teu vulto apagar sem retorno.
Falta o teu corpo voltar a ver.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

O Meu Carnaval

Vou fantasiar-me de inverno neste carnaval. Tons pastéis e escuros. Beges, pretos e cinzas. Mas, em meu rosto, a purpurina prateada brilhará em homenagem à felicidade que os meus passos dançados irão me dar.
Vou gelar tua vontade de me ver chorar. Vou extirpar o orgulho da tua fala e fazer desabar toda tua certeza e teu tolo poder. Sua fantasia de querer prever amarguras será totalmente colocada de lado, estraçalhada. Em todos os quesitos eu serei nota dez. E você, vai, te dou sete e meio, já que ainda te quero.
Vou te convidar pra escutar o meu samba e quero ouvir teus palpites. Mas, por favor, sem invejas, vamos dar uma trégua em nosso cabo-de-guerra...quero ver se você vai agüentar sair sambando comigo na avenida. Podem nos ver, podem nos julgar.
Se você topar, eu te levo. Se você quiser, eu te quero bem demais.

Valéria Diniz