quarta-feira, 30 de julho de 2008

A Precisão da Gramática

Só importa ser conhecedor da Gramática para não se deixar escravizar por ela mas, sim, para, consciente e elegantemente, deturpá-la.
Guimarães Rosa que o diga.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Corcovado pra vocês

"Num cantinho um violão
Este amor, uma canção
Prá fazer feliz a quem se ama
Muita calma prá pensar
E ter tempo prá sonhar
Da janela vê-se o Corcovado
O Redentor, que lindo!

Quero a vida sempre assim
Com você perto de mim
Até o apagar da velha chama
E eu que era triste
Descrente deste mundo
Ao encontrar você eu conheci
O que é felicidade
Meu amor."

Antonio Carlos Jobim - 1960
Site: www.tomjobim.com.br

Cigarro por Cantinho - 50 Anos de Bossa nova

"Na preparação de Corcovado, cujos versos iniciais seriam dos mais lembrados e queridos da Bossa Nova pelos trinta anos seguintes, havia uma coisa que incomodava João Gilberto. Ele começava a cantar e parava logo:
Um cigarro e um violão / Este amor, uma canção.
Tentava de novo e não conseguia. Até que se deu conta e disse a Tom (Jobim): Tomzinho, essa coisa de 'um cigarro e um violão'. Não devia ser assim. Cigarro é coisa ruim. Que tal se você mudasse para 'um cantinho, um violão?' Jobim, que fumava perto de três maços por dia, acedeu à sugestão de João Gilberto..."
In "Chega de Saudade - A História e as Histórias da Bossa Nova", de Ruy Castro, Companhia das Letras (1990)

Blasfêmias

Blasfêmias.
Quero escrever blasfêmias sobre toda concatenação harmoniosa, pura e singela. A pureza, se existe, é blasfêmia.
Sinto-me um ronco forte como se tivera tomado xarope pra tosse. Aquele ruim que se come doce depois. O que expectora. Parto: trabalho de pôr pra fora, operação de recebida, sangue de nova vida, expulsão e acolhida. Na retina o mundo. Em fragmentos as lentes de contato.
Se é preciso ficar só pra se viver? Se é preciso trombar-se com e tombar na queda d'um desfiladeiro-precipício euforicamente?
É. A passionalização dos seres e afazeres ilumina a rota torta, a romaria quando chega em encruzilhada. É de lá ou de cá, irmãos? De quem Deus é?
Deus, mistério, chão, sigilo, aliado jamais sussurrado. Convido-me a rezar sempre. Sou um animal despreparado, medroso, mas constantemente associado.
Rotina de vinho, chão e tinta.
Grito. São tantas as palavras que a vontade é de grudá-las umas às outras, grudá-las, grudá-las até formarem uma só: o símbolo dos símbolos, a representação das representações, o à margem do abstrato, o concreto.
Será demasiada obsessão sintética-antitética? Será unicidade á toa, visual pouco pro tanto consumido? E será todo o oposto viagem solitária aos longes-além? Divagantes monólogos?
Falam com quem as palavras? Quem lhes verte? Que voz pontua finalmente ou reticencia?
Rotina de chão, vinho e tina.
Que voz quem???

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Impressões e Expressões

Desconheço meu interlocutor. São vários: meu Passado, sua Reatualização, meu Presente-Processo, meus Futuros-Sonhos. Sou eu mesma, esta minha pessoa que, acredito, sente o que não suporta expressão. Definir destrói riquezas. Meu fim é outro. Meu fim é o seu meio. Por isso permaneço insocializável, impoliticável. Na verdade, não possuo finalidade.
Enquanto você tem prazer na mudança, eu tenho prazer no que a antecede: o processo de, a preparação para. Coleciono antíteses com paixão, assim como você coleciona regras, verdades, leis absolutas na vida.
E sou lúcida o suficiente para estar sempre a um passo do colapso mental. Toda vez em que percebo o grande jogo que é a linguagem, as perfeitas atrizes que são as palavras e a enorme insignificância que somos nós e todas as nossas tentativas de exibição do Real.
Ele sempre se esvai. As palavras, os sons o consomem, ressignificando-o. As idéias que temos das coisas existentes são ressignificações sucessivas.
Reconhece, então, o seu eterno desconhecimento. Perca a pretensão de suas afirmações a favor de suas dúvidas. O duvidar fica mais próximo do Real porque considera a existência de mais de uma resposta.
Não queria eternizar algo. Estas minhas palavras, jogue-as fora se sua intenção for apenas repeti-las mecanicamente. Se não houve um sentimento vital, mesmo que lhe impulsione à discordância, jogue-as fora.
Ressignifique. É seu jeito mais humano de ser.

sábado, 26 de julho de 2008

O Moço e o Menino

O moço não entende,
moço demais pra entender.
Fala seriamente, escreve anotações,
por ser só um menino é tão sério o moço.
Deseja ser homem,
entendo o moço,
carinho tenho por ele.
Deixo-o sentir-se superior.
Deixo-o acreditar em suas teorias todas,
tão dissecadas, cadavéricas, inócuas,
modo curioso de dizer "sou sábio".
Olho o moço menino,
concordo em tudo com ele,
assim não sente tristeza,
assim não abre um berreiro.
Tento vê-lo como o homem que ainda não é,
moço demais para ser.
Intimamente, o moço sabe quase nada deter.
Tem a voz baixa, não suporta meu olhar.
Como me convencer?
Como me fazer acreditar em sua sabedoria?
Pensa conseguir por falar muito,
mas só atravessa minhas palavras
e não vê o momento de despedir-se de mim.
Sabe ser enxergado,
sabe do seu rosto quase imberbe,
de seu desengonçado corpo,
de seu descomposto rosto por trás dos óculos
para parecer menos menino ainda.
Eu o distraio e vou-me embora dizendo obrigada, Doutor.
Ele necessita ser títulos.
Pena. Só queria o menino.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

INFORMAÇÕES IMPORTANTES E AS PULGAS PERGUNTAM

ESTE BLOG TAMBÉM ESTÁ ABERTO - E NÃO CENSURA - À COLOCAÇÕES AMENAS, DISTANTES DAS CHATAS "MASTURBAÇÕES MENTAIS" E DA "PROCURA DE PÊLOS EM OVO." AFIRMADO E CONFIRMADO TAL PACTO, PERGUNTO: QUEM MATOU O MARIDO DE DONATELA FONTINI NA NOVELA "A FAVORITA"? SOU UMA NOVELEIRA CONVICTA E SEM VERGONHA QUE ESTÁ, NO MOMENTO, COM DUAS PULGAS - UMA ATRÁS DE CADA ORELHA - INDAGANDO A MIM E A VOCÊ LEITOR: POR QUE AS PESSOAS CRIAM BLOGS E POR ELES TRANSITAM?

Sobre Álvaro de Campos

Isis, legal que você também gosta de Álvaro de Campos e até do mesmo poema que postei. Tem muita coisa pra pensar ao lermos tal heterônimo do Fernando Pessoa. Queria colocar as que observo. Bem, Álvaro de Campos possui uma forma única de viver. Não fala Sobre o que vê, sobre o que pensa, sobre o que sente, mas É o que vê, É o que pensa, É o que sente. Não fala Sobre as engrenagens das máquinas do mundo moderno, não fala Sobre a eletricidade que as move. É tudo isto: "... Giro dentro das hélices de todos os navios.../Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade!/ usa a palavra, a meu ver, destruindo-a como função mediadora entre o homem e o mundo. Não há espaço, não há algum distanciamento entre ele e o mundo. Veja só o que diz: "Sentir tudo de todas as maneiras/Viver tudo de todos os lados/Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo/Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos/Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo." Não se parece com o "tudo ao mesmo tempo agora" dos nossos dias? Incontestavelmete, trata-se de um escritor Universal. Mas Álvaro, ao ser tudo, é nada. Personalidade confundida com o mundo, totalmente desfigurada e vazia. Quantas vezes repete que não sabe quem ele próprio é e nem se algum dia foi e muito menos se será e menos ainda se pôde, algum dia, chamar-se como si mesmo, como possuindo uma personalidade que pudesse sentir e caracterizar e ser? "Eu, este degenerado superior sem arquivos na alma/Sem personalidade com valor declarado/Eu, o investigador das coisas fúteis..." Ou "Sou nada.../sou uma ficção..." Não há dúvida sobre o vazio exposto intensamente e dolorosamente de seu ser. Acho que, atualmente, existem muitos Álvaros de Campos à solta. Estamos num mundo que produz informações com extrema velocidade e, de tão velozes que chegam a nós, também são passageiras. Muitos sofrem e dizem que tal sofrimento é um "vazio por dentro". Não comentarei sobre a saúde mental das pessoas nos dias atuais por não me sentir capaz. Mas não restam dúvidas sobre a existência de muitos quadros psiquiátricos onde o vazio é verdadeiro vilão. Bem, fico por aqui e indico um livro de Fernando Segolin para quem se interessa por Fernando Pessoa: "Fernando Pessoa - Poesia, Transgressão, Utopia" (EDUC, 1992)

quarta-feira, 23 de julho de 2008

" Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca,propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente "

Fernando Pessoa - Álvaro de Campos - Agosto de 1913

Pescamento

Não se mexa.
Não tente algum movimento.
Peixes nadam em seus riachos.
"...Mire e Veja..."

obs.: entre aspas, Guimarães Rosa em "Grande Sertão: Veredas". Riobaldo firma e confirma.
Não encrenques com as orações invertidas...
Ao espelho, a imagem tua também o é.
Doeu demais?
Sorrio.

Instantes

Instantes não findam,
religam-se a outros.
frágeis, discretos nós,
invisíveis quase
sentidos teimosos da vida.
Não evaporam os instantes
tal qual pessoas num só repente.
Re-significam sempre.
Não perecem nem mentem
como o destronado rei vivente
em minha barriga.