sexta-feira, 25 de julho de 2008

Sobre Álvaro de Campos

Isis, legal que você também gosta de Álvaro de Campos e até do mesmo poema que postei. Tem muita coisa pra pensar ao lermos tal heterônimo do Fernando Pessoa. Queria colocar as que observo. Bem, Álvaro de Campos possui uma forma única de viver. Não fala Sobre o que vê, sobre o que pensa, sobre o que sente, mas É o que vê, É o que pensa, É o que sente. Não fala Sobre as engrenagens das máquinas do mundo moderno, não fala Sobre a eletricidade que as move. É tudo isto: "... Giro dentro das hélices de todos os navios.../Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade!/ usa a palavra, a meu ver, destruindo-a como função mediadora entre o homem e o mundo. Não há espaço, não há algum distanciamento entre ele e o mundo. Veja só o que diz: "Sentir tudo de todas as maneiras/Viver tudo de todos os lados/Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo/Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos/Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo." Não se parece com o "tudo ao mesmo tempo agora" dos nossos dias? Incontestavelmete, trata-se de um escritor Universal. Mas Álvaro, ao ser tudo, é nada. Personalidade confundida com o mundo, totalmente desfigurada e vazia. Quantas vezes repete que não sabe quem ele próprio é e nem se algum dia foi e muito menos se será e menos ainda se pôde, algum dia, chamar-se como si mesmo, como possuindo uma personalidade que pudesse sentir e caracterizar e ser? "Eu, este degenerado superior sem arquivos na alma/Sem personalidade com valor declarado/Eu, o investigador das coisas fúteis..." Ou "Sou nada.../sou uma ficção..." Não há dúvida sobre o vazio exposto intensamente e dolorosamente de seu ser. Acho que, atualmente, existem muitos Álvaros de Campos à solta. Estamos num mundo que produz informações com extrema velocidade e, de tão velozes que chegam a nós, também são passageiras. Muitos sofrem e dizem que tal sofrimento é um "vazio por dentro". Não comentarei sobre a saúde mental das pessoas nos dias atuais por não me sentir capaz. Mas não restam dúvidas sobre a existência de muitos quadros psiquiátricos onde o vazio é verdadeiro vilão. Bem, fico por aqui e indico um livro de Fernando Segolin para quem se interessa por Fernando Pessoa: "Fernando Pessoa - Poesia, Transgressão, Utopia" (EDUC, 1992)

Um comentário:

Antonio Gomes disse...

Caramba! Aprendi pacas lendo seus comentários. Está ai, vc se sai super bem como colunista, articulista...heim! Parabéns...

ASS: Minha intuição.